O curioso caso da cerveja Belorizontina da Cervejaria Backer


Três pontos serão analisados neste artigo sobre a contaminação da cerveja Belorizontina. A substância, a empresa e seus contextos e impactos.

Em 30 de dezembro de 2019 o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS Minas) foi notificado sobre uma possível ameaça à saúde pública identificada num caso de insuficiência renal aguda (vômito, náusea e dor abdominal) com alterações neurológicas (paralisia facial, borramento visual, amaurose e paralisia descendente) em um paciente internado num hospital privado em Belo Horizonte. Em 31 de dezembro outro caso apareceu em Juiz de Fora e desde então uma lista de 11 pacientes foram localizados.
Nos laudos médicos comprovaram a presença nos pacientes da substância dietilenoglicol (DEG), elemento este usado no processo de refrigeração da industria cervejeira. O DEG é muito comum nos produtos de consumo e tem significativa presença em fluidos de freios e sistemas de refrigeração, porém, este mesmo produto é regulamente usado em assassinatos em massa.

Dietilenoglicol - DEG

Em 1935 foi lançado a sulfanilamida nos Estados Unidos, um antibiótico de origem sintética que atualmente ainda ainda está presente em pomadas de uso vaginal. Este fármaco antibacteriano foi melhorado pela empresa estadunidense SE Massengill Company adicionando o dietilenoglicol em sua formulação para que o Sulfanilamida fosse mais agradável ao uso infantil. Assim nasceu o "Elixir Sulfanilamida" sabor cereja lançado em 1937. Acontece que o DEG causou 107 mortes, muitas delas infantis, comovendo a população americana.
A Revista Clinical Toxicology publicou um artigo cientifico em 2009 apontando doze casos de envenenamento coletivo envolvendo a substância DEG. Como no caso de 1992 em Bangladesh quando 236 crianças medicadas com Paracetamol que continham a DEG vieram a óbito. Outro caso semelhante aconteceu no Panamá em 2006 cem pessoas que haviam consumido xaropes contaminados com a DEG no lugar da glicerina. Na Nigéria em 2008 por volta de 84 bebês morreram quando estiveram em contato com uma pasta dental contaminada com DEG.
Este fio de morte parece ter alcançado a cerveja Belorizontina, cujo nome é uma homenagem aos 120 anos da capital mineira. Infelizmente o paciente de Juiz de Fora morreu ao não resistir aos efeitos da DEG e outra dezena está internada nos hospitais, enquanto jornais vem promovendo um linchamento público da fabricante cervejeira Backer.

Cervejaria Backer

Com a fábrica no bairro Olhos D'água, em Belo Horizonte, a Backer está em franca ascensão no mercado de cervejas artesanais a partir de água, malte, lúpulo e levedura. Em seu catálogo pode ser contabilizado 21 marcas de cervejas com nomes como Medieval, Capitão Senra e Belorizontina. Amante da beer Belga, os sócios da Backer tem um faturamento anual em torno de 80 milhões de reais, alcançando relevância internacional transformando a região metropolitana de BH na Bélgica Mineira. 
No site Guia da Cerveja ao analisar a visão da Ambev sobre o mercado de cervejas artesanais, esta compreende esta tendência ainda como incipiente limitada a 1% do mercado brasileiro, no entanto a empresa de Jorge Lemann se recusou a comentar a pesada tributação que recai sobre as micro cervejarias.
Fonte: iananalitica.com.br
A Backer é uma destas micro empresas de cerveja que vem tentando sobreviver no monopolizado mercado cervejeiro do Brasil onde três empresas AmBev, Grupo Petrópolis e Heineken controlam 96% do mercado brasileiro. Em junho de 2017 o Brasil contava com 650 cervejarias, dez anos antes eram apenas 100, a enxurrada de cervejas ciganas vem diluindo o mercado artesanal promovendo bares, novas marcas e promovendo diversidade nas opções de compra dos consumidores. Este é o meio em que a Backer vem nadando de braçadas até que o DEG acertou em cheio a sua reputação.

A Backer e o DEG

No momento em que escreve este artigo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) manda recolher todas as marcas da Backer para o teste de presença da substância DEG. Tanto o dietilenoglicol como monoetilenoglicol foram encontrados em algumas garrafas da Belorizontina, porém apenas a segunda substância é usada na fabricação, mesmo assim numa área externa aos equipamento denominada Chiler de refrigeração com um quase impossível contato.
Quando temos em nossa casa ar-condicionado a serpentina de resfriamento e os ventiladores são acoplados em um único equipamento. No entanto na climatização industrial estes dosi processos são separados, a serpentina fica externamente as câmaras frias e a climatização interna fica porconta dos tubos de cobres embutidos nas paredes geladas. O que a Polícia Civil está tentando entender como o monoetilenoglicol que circula na serpentina externa conseguiu contaminar o líquido refrigerante que circula nos tubos de cobre e por sua vez atravessou as paredes de metal dos tanques e contaminou não o tanque de cerveja, mas algumas gavas de cervejas que os consumidores ingeriram no bar localizado no bairro buritis em Belo Horizonte.
Ademais, a DEG que tem um histórico de assassinato em massa foi encontrado em três pacientes e em algumas garrafas da Belorizontina. Pelo o que consta esta contaminação é diferente de todas as outras que ocorreram nos últimos 80 anos, aqui pode-se dizer que é ou acidental ou sabotagem. No primeiro caso precisaria ser um lista infinita de coincidências quase improváveis e absurdas como, por exemplo, um micro furo com vazamentos intermitente alvejando alguns garrafas da marca Belorizontinas que por acaso transitavam perto da DEG em algum lugar desconhecido. No caso de sabotagem, bom, é sabotagem pode haver várias maneiras de fazê-lo.

Conclusão

Bom, no caso de 1937 nos Estados Unidos, no ano seguinte o senador americano Royal S. Copeland apresentar a Lei Federal sobre Alimentos, Medicamentos e Cosméticos ampliando os poderes de polícia da FDA (Food and Drug Administration) e cedendo as pressões para a derrubada da Lei de Alimentos e Drogas Puras idealizado por Harvey Washington Willey em 1906, Lei Willey. No caso do Panamá rastreou-se a  glicerina dos xaropes até a China onde se identificou que uma fábrica chinesa havia falsificado o composto vendendo a custo baixa para a fabricante do xarope panamenha. Num caso ocorrido na Áustria como Escândalo do vinho os vinicultores adicionaram a DEG propositalmente para dar doçura aos vinhos uma vez descobertos todos os barris foram recolhidos. No entanto, agora no Caso Backer não há sinal de uma mistura intencional por parte do fabricante, mas apenas a presença do veneno nas garrafas. Seria uma sabotagem? Se sim, para qual finalidade mercadológica? Política? Regulação das micro cervejarias artesanais? E quem faria tamanha maldade contra consumidores inocentes que apenas queriam degustar um cerveja diferente das monopolizadas? A dúvida paira definitivamente sobre nós.

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Daniel Souza Júnior
Aluno do Programa de Pós Graduação da ESAG-UDESC