A ditadura que vem de Pequim.
Existe um relato bíblico, no antigo testamento, que quando o povo de Israel foi escravizado pela Babilônia, Daniel e seus amigos se recusaram a comer das delícias do banquete do rei Nabucodonosor. Isto porque, Daniel escolheu não contaminar a sua consciência com banquetes que profanavam a santidade do Deus de Israel.
De certa forma, há uma Babilônia impondo seus banquetes a nós, brasileiros; a Babilônia China. Documentos vazados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e pela Australian Strategic Policy Institute (ASPI) denunciam um sistema análogo a campo de concentração operacionalizado pelo governo de Pequim.
O relatório da ASPI indica que mais de um milhão de chineses da etnia uigures estão desaparecidos pela extensa rede de "campos de reeducação" no interior da província de Xinjiang, na China. Esta campanha de reeducação, segundo o relatório da ASPI, tem como objetivo doutrinar os uigures a abandonarem sua cultura e suas crenças, remodelando-os à imagem da suprema etnia chinesa han.
Etnia Uigures
Desde 1949 o governo déspota da China fundado por Mao Tsé-Tung vem conduzindo com mão de ferro o povo chinês. Deng Xiaoping amplificou seu sistema de governo avassalando camponeses em nome de um capitalismo fajuto com mãos de obra análogo a escravos nas fábricas chinesas. No fim, os mais de 10 milhões de Uigures habitantes da província de Xinjiang no oeste do país, têm sido usados na fabricação de produtos de marcas de projeção internacional como: BMW, Bosh, Volkswagen, Puma, Siemens, Adidas, Calvin Klein, Amazon, Apple, Samsung, GM, Jaguar, LG, Panasonic, Fila, e a lista segue por 83 marcas.
Willian Zheng do South China Morning Post informou no dia 06 de abril que o governo de Xi Jinping andou aumentando o autoritarismo contra etnia uigur. Desde 2017 o governo de Xi Jinping vem apertando o controle social contra aquilo que o governo comunista tem chamado de "ações extremistas". Adrian Zenz, especialista em cultura uigur disse que as medidas draconianas na província de Xinjiang dá "margem de manobra legal para implementar um projeto de reengenharia social" com argumentos de benevolência.
Há anos os uigures com sua cultura muçulmana vêm reivindicando as terras de Xinjiang. Enquanto o Partido Comunista da China (PCCh) desde a década de 80 segue povoando a região com chineses da etnia han. Patrick Meyer, outro especialista em cultura uigur, conta que o PCCh desenvolveu acordos de extradição de uigures com países vizinhos daquela região como Cazaquistão, Paquistão e Quirguistão de modo que qualquer fuga da região o governo chinês ficará sabendo, como aconteceu num caso de dois uigures que acabaram em Guantánamo em Cuba.
O controle social de Xinjiang
Desde a virada da década de 90 a província de Xinjiang vem colecionando distúrbios por causa dos uigures. Em 1997, 1999, 2009, uma série de manifestações e pertubações sociais foram registrados nas cidades de Xinjiang. Como resposta o Partido Comunista resolveu atuar em três estratégias: aumento do aparato de segurança local, melhorar os meios de vida dos uigures e desconstruir sua cultura e religião.
No governo Xi Jinping foi feito uma campanha de "harmonização de culturas". O líder do Partido Comunista propôs enviar 200 mil pessoas à província de Xinjiang para trabalhar nas aldeias e vilarejos; desarraigando a cultura uigures, segundo Patrick Meyer. Como resultado, o controle social naquela comunidade tem aumentada vertiginosamente. Até que no fim de 2019, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) teve acesso a um documento interno do Partido Comunista em que determina diretrizes análogas aos campos de concentração. Vinte cinco tópicos são determinados divididos em cinco categorias: segurança do local de treinamento, melhoramento na qualidade da educação e treinamentos, implantação de um sistema de classificação e gerenciamento de pontos, sistema de avaliação e revisão, fortalecimento da liderança organizacional e a garantia do emprego.
Ao longo dos vinte e cinco itens existem tópicos bizarros como o do décimo quinto entitulado gestão do comportamento: "o sistema de estudo, vida e atividades de treinamentos devem ser formulados em detalhes, os alunos devem ter uma posição fixa na cama, posição fixa na fila, assento fixo na sala de aula, e um lugar fixo na estação de trabalho.[...] Implementar normas comportamentais e requisitos de disciplinas para se levantar, ir ao banheiro, comer, estudar, dormir, fechar a porta e assim por diante. Aumentar a disciplina e a punição de violações comportamentais e promover uma profundo estudo padronizado e ordenado".
Australian Strategic Policy Institute (ASPI) tem informado que muitos destes uigures estão sendo usados como mão de obra nas províncias leste da China ou mesmo em fábricas dentro de Xinjiang. Escreve o manual de operação em seu décimo nono item: "todos os alunos que concluírem o treinamento serão enviados para a aula de aperfeiçoamento de habilidades vocacionais para treinamento intensivo num período de 3 a 6 meses. Todas as prefeituras [de Xinjiang] deve criar locais especiais para os alunos serem treinados intensivamente". O documento segue pontuando que o treinamento deve estar relacionado com as aspirações do aluno e as necessidades da sociedade. E para tanto devem fazer ajustes psicológicos em termos de políticas e regulamentos para uma melhor integração na sociedade.
Desta forma, a cadeia de suprimento da China está se fortalecendo. O controle social é essencial para que os produtos de nossos desejos chegue em nossas mãos aqui no ocidente. Embora é sabido as atrocidades do mundo muçulmano contra os cristãos, jamais teríamos um espírito de vingança contra estes muçulmanos chineses. O fato crucial é que o capitalismo que vem da China é aquele banquete que Daniel recusou na Babilônia em defesa de uma boa consciência para com Deus. No contexto da Babilônia chinesa seres humanos podem estar vivendo em condições análogas aos campos de concentração, mas o partido oficial da China apenas desmente cada uma destas acusações.
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Para variar o governo chinês nega todas as acusações.
Daniel Souza Júnior
Editor Teorítica