O 5G está vindo com toda a força, mas sem nenhuma discussão.
Na semana
passada, 23 de junho, o deputado federal Vinícius Carvalho (Republicanos-SP)
fez um live com o presidente da Anatel, Leonardo Euler;
presidente da Abratel, Márcio Novaes; e com o vice-presidente de Relações
Institucionais da Claro, Fábio Andrade. O assunto? Tecnologia 5G.
Evidentemente
o foco ficou na promoção da nova tecnologia, sobretudo, os entraves legais e
mercadológicos que estão afetando a implementação da tecnologia 5G no Brasil.
Segue abaixo o resumo do que foi comentado.
... "o 5G não funcionará nos atuais aparelhos de
celular"
Foi direto em sua afirmação o vice-presidente de Relações Institucionais da operadora de telefonia Claro, Fábio Andrade, aos 33m20s. Tal afirmação, na verdade, foi um complemento da resposta que o Presidente da Anatel deu quando questionado sobre a utilização dos atuais aparelhos de celular aos 21m24s:
"os devices [dispositivos móveis] podem necessitar da faixa [de radiofrequência] de 3,5GHz, mas esses aparelhos, hoje disponíveis no mercado, não tem essa frequência [ embora os atuais aparelhos possam operar em várias outras frequências]. Para receber o 5G vão precisar de novos aparelhos".
O Presidente da Anatel destacou ainda que a tecnologia 5G opera em outras frequências como a 700 MHz ou 2,7 GHz, porém, a frequência de 3,5 GHz é a porta de entrada do 5G no Brasil. O vice-presidente institucional da Claro complementa aos 33m40s "não tem aparelho comercial que funciona 5G à venda no Brasil.
Presidente
da Anatel quer "silêncio positivo" para aumentar antenas no Brasil
O 5G
demanda números de antenas "a média de 10 vezes mais que o 4G", disse
aos 14m15s pelo vice-presidente institucional da Claro. Esta é a real
preocupação das empresas de telefonia: instalação de mais antenas, porém, essas
empresas estão reféns das legislações municipais, dependendo de autorizações de
prefeituras ou mesmo de legislação de planos diretores e outros dispositivos
legislativos. Para superar se livrar dos poderes municipais o Presidente da
Anatel durante a live solicitou ao deputado federal Vinícius Carvalho
que pudesse fomentar a rediscussão do dispositivo "silêncio
positivo". "O que significava isso: após a solicitação para a
instalação de antenas em 60 dias, caso a administração municipal que é
responsável pelo ordenamento territorial se quedar-se silente, a aprovação da
instalação estava tacitamente garantida ou aprovada".
Dito de
outro modo, o Presidente da Anatel quer colocar os municípios à serviço das
empresas de telefonia e não ao contrário. Ou seja, a empresa de telefonia diz
que vai instalar uma antena do lado de uma casa qualquer, por exemplo, e o
município tem 60 dias para recorrer da decisão. Caso não o faça, as empresas
terão a sua s licenças automaticamente liberada. O Presidente da Anatel não
percebe que tal dispositivo dará um poder fora de controle para as empresas de
telefonias? Se as telefonias estão enraivadas porque suas licenças demoram,
esse é o custo Brasil. Além de vivermos sob o monopólio de quatro operadoras
com preços absurdos e serviços degradantes ainda querem elas se livrarem das
burocracias municipais que todo o brasileiro padece, acho que isso é demais.
Presidente da Anatel disse que não há monopólio de telefonia no
Brasil
Aos
54m41s da live o Presidente da Anatel, Leonardo Euler, disse: "na
telefonia celular é bem verdade que nós temos quatro grande atores e pequenos
atores ou atores regionalizados. Mas existem índices na literatura econômica
que falam o que é competição: competição na verdade não é o número de players
e nem de empresa, porque posso ter 10 empresas ou 20, mas se uma tiver 90% do
mercado, isso não é competição. Então, se nós pegarmos os índices da
literatura econômica, nós vamos ver que o Brasil é um dos países mais
competitivos do mundo". Aqui eu faço uma critica direta ao Presidente
da Anatel: Isto é negar a realidade.
Será que já esquecemos que em 2013 a espanhola Telefónica, dona da Vivo, criou uma holding para salvar da falência a Telecom Itália, dona da TIM? Ou que a francesa Vivendi até 2019 era acionista influente tanto da Telefónica quanto da Telecom Itália? Não é por acaso que o CEO da Telefónica, Ángel Vilá, já vem sinalizando que a sua empresa deseja comprar a quase falida empresa Oi. Porém, Ángel afirma que qualquer negociação deve incluir a Telecom Itália. TIM e a VIVO dão as irmãs siameses que comandam o nosso sistema de telefonia, escreve Canaltech .
É óbvio que num mercado onde há duas empresas irmãs, uma outra mexicana que ainda não se firmou e uma quarta empresa brasileira à beira da falência, não existe concorrência, mas um descarado monopólio. Fiquei terrivelmente espantado com a afirmação do presidente da Anatel. E para completar ele afirma que " o Brasil é um dos países mais competitivos do mundo", meu Deus, o que é isso? A agência reguladora da economia desconhece o ambiente econômico em que vivemos? Faça um teste, faça uma lista de dez empresas nacionais ou estrangeiras que se tornaram líderes de seus segmentos aqui no Brasil sem o financiamento público?
Presidente da Anatel desconhece estudos sobre a radiação não-ionizante
Quando questionado sobre os problemas de saúde que a tecnologia 5g poderá causar, o Presidente da Anatel disse aos 47m40s:
"É importante que nós esclarecemos que não há nenhuma comprovação científica da relação entre quaisquer tecnologias de comunicação móvel 3g, 4g, 5g, e o novo corona vírus ou outra questão relacionada a saúde. Os limites de exposição humana a campos eletromagnéticos emitidos pelas antenas de redes moveis foram estabelecidas pelo brasil seguindo as recomendações da OMS. Esses limites visam justamente garantir a proteção da saúde e do meio ambiente em todo o território brasileiro".
Deixo aqui para o digníssimo leitor o link de uma matéria que escrevi relacionando algumas publicações científicas que tem mostrado os problemas da radiação não-ionizante para a saúde das pessoas. Além, claro, de uma lista de sites que vêm denunciando os perigos do 5G. O presidente da Anatel disse " não há comprovação científica", mas é válido lembrar que não ter comprovação científica não anula o problema. E se pesquisas científicas estão provando que existe problemas na radiação não-ionizante das antenas e até dos roteadores, evidentemente temos que recorrer ao princípio da Precaução: é melhor estar grosseiramente certo em tempo, mesmo tendo em mente as consequências de estar sendo errado, do que está completamente errado tarde demais. Esse é o princípio que a turma da sustentabilidade fica repetindo todo o dia, mas curiosamente estão calados quanto a tecnologia 5G. Mas, se dependem da OMS, ninguém será precavido, apenas remediado.
Daniel Souza Júnior
Editor do Teorítica
Links usados
Sobre o "Silêncio Positivo" - http://www.agenciatelebrasil.org.br/Noticias/Comissao-da-Camara-aprova-silencio-positivo-em-90-dias-para-antenas-de-celular-481.html?UserActiveTemplate=site&UserActiveTemplate=mobile%252Csite
Relação
Telefónica e a Vivendi - https://cincodias.elpais.com/cincodias/2019/02/19/companias/1550604394_178747.html
Como a
Telecom Itália sobreviveu - https://www.borsaitaliana.it/notizie/finanza-sostenibile/news/message/tim.htm