As universidades brasileiras no Ranking Internacional



No dia 19 de outubro a revista americana U.S. News & World Report, publicou o Ranking das 1.500 melhores universidades do mundo. A pesquisa partiu dos apontamentos da monitora de conteúdos científicos, a empresa Clarivate Analytics. Diante do levantamento de dados dessa companhia, foram destacadas as 250 melhores universidades do mundo que no caso brasileiro foi representado pela USP (posição 122°). Enquanto a África do Sul contou com duas universidades (posição 103° e 192°). 

Dentre  universidades americanas foram contabilizados 80 instituições com destaque para Harvard, MIT e Stanford, respectivamente, primeiros, segundo e terceiro lugar no ranking das 250 melhores. Os chineses foram representados por 12 universidades com a melhor colocada na posição 28°, Universidade de Tsinghua de Pequim.

Outro país que se destacou foi o Reino Unido com 27 universidades com a Oxford sendo a melhor colocada ( 5° posição). A Austrália também foi bem representada com 15 instituições com destaque para a Universidade de Melbourne na posição 25. Em todos os casos, se pensarmos em países periféricos (não acho o termo adequado), a primeira instituição que melhor se posicionou foi a Universidade Nacional de Singapura, posição 32.

Da posição 32 até a USP, a melhor colocada das universidades brasileiras (posição 122°), decorreram outras três universidades de Hong Kong (83°, 95° e 109°), uma de Singapura (38°), duas da Arábia Saudita (42° e 121°) e, como foi dito, uma da Africa do Sul, Universidade da Cidade do Cabo (103°). A Universidade de São Paulo dispôs de um orçamento de mais 7 bilhões de reais no ano de 2019 para educar cerca de 97.300 estudantes.

A próxima universidade brasileira a se figurar no ranking é outra universidade paulista, a Unicamp na posição 277. Com um orçamento de 4.77 bilhões de reais anual a Unicamp forma dupla com a USP na representação do Brasil nas 300 melhores universidades do mundo.

Outra universidade é a UFRJ na posição 342 com um orçamento de 3.9 bilhões de reais atendendo 67 mil alunos. A UFRJ está atrás da sul-africana KwaZulu Natal que com um orçamento de 1.6 bilhão de reais ao ano atende 104 mil alunos, isto é, com 40% do roçamento da Federal do rio de Janeiro, a universidade africana atende 55% a mais de alunos e alcança melhor colocação no ranking mundial.

O real estado das universidades brasileiras no mundo

Metodologicamente, depois daquelas 250 universidades ranqueadas como as melhores do mundo, a pesquisa selecionou todas as universidades que entre os anos de 2014 a 2018 publicaram no mínimo 1.250 artigos. Fora a USP que ficou entre as 250, figurou nessas 1.250 universidades outras 37 instituições brasileiras, segue a lista a seguir.

USP (122°) - Unicamp (277°) - UFRJ (342) - UFRGS (447°) - UFMG (461°) - UNESP (463°) - Universidade Federal do ABC (529°) - UFSC (555°) - UNIFESP (613°) - UERJ (631°) - UNB (714°) - UFJF (769°) - UFSJ (792°) - Federal de Pelotas (801°) - UFPR (826°) - UFSCar (856°) - UFC (864°) - Federal do Pernambuco (868°) - UFRN (888°) - UFBA (904°) - Federal Fluminense (930°) - UFV (990°) - UFSM (1.056°) - PUC do RS (1.093°) - Universidade de Goias (1.110°) - Federal da Paraíba (1.226°) - UFSE (1.258°) - UFLA (1.271°) - Universidade Estadual de Maringá (1.281°) - UFPA (1.288°) - Federal de Uberlândia (1.294°) - Estadual de Londrina (1.304°) - PUC do Paraná (1.339°) - Federal do Rio Grande (1.360°) - UFES (1.396) - UFOP (1.443°) - IFRS (1.470°) - Federal de Alagoas (1.499°)

De acordo com o Inep (MEC), no ano de 2017, o Brasil possuía 2.448 instituições de ensino superior sendo 199 delas universidades. Uma Nota Técnica de fevereiro de 2018 apontou que o MEC sustenta 63 universidades federais a um custo de 50 bilhões de reais por ano (dados de 2017). Daquelas duas centenas de universidades brasileiras apenas 19% delas conseguiram se ranquear entre as 1.500 melhores universidades do mundo nesse ano de 2020. Para efeito de comparação a África do Sul que possui 25 universidades conseguiu ranquear 14 instituições, ou seja, 56 % das suas universidades foram qualificadas para a análise da revista U.S. News & World Report.

Comparando um pouco mais

Poderíamos pensar que se trata de um americanismo ou europismo exacerbado da parte da revista ao ranquear poucas universidades brasileiras, porém, nota-se, alguns fenômenos na lista que no mínimo desperta curiosidades. Instituições de ensino superior de outros países com recursos limitados como a Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul) - que tem um orçamento em média por aluno de 70 mil semelhante a USP - segue a frente da universidade paulista no ranking internacional e tendo em seu currículo cinco ex-alunos laureados com Prêmio Nobel. Embora a USP ocupe o sétimo lugar de publicação científica no ranking mundial e a Universidade da Cidade do Cabo esteja na posição 399, como identificou uma pesquisa da Universidade de Leiden (Holanda). Parece que todo esse produtivismo não tem atraído o interesse dos grandes organismo.

Outra situação curiosa é o caso da Universidade Estadual Paulista (UNESP) que vem disputando o 463° lugar no ranking com o Instituto de Física Yerevan, da Armênia. O YerPhl (como é conhecido esse instituto armênico) foi criado ainda sob a mão de ferro da União Soviética, alguns de seus alunos foram enviados para as prisões da Sibéria, como foi o caso do físico Yuri Orlov que chamou Stalin de "um assassino no poder". O YerPhl além de sofrer a milhares intervenções político-financeiras dos soviéticos, o que prejudicou indiscutivelmente sua existência, também vive um orçamento minguado, para se ter uma ideia em 2010 estava em R$ 1,95 milhão (em valores de hoje se descontarmos a oscilação do dólar no período). Enquanto naquele mesmo ano a UNESP estava pleiteando junto a Comissão Orçamentária o montante de 1.8 bilhão de reais, sendo que 80% destinado a pagamento de pessoal. 

Outras universidades africanas estão ganhando a corrida, mesmo com orçamentos tímidos

Um outro caso emblemático é o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que ficou na posição 555° no ranking mundial, duas posições atrás da Universidade Addis Ababa da Etiópia (553°). Addis Ababa é uma instituição de ensino superior africana que em 2015 atendia 48.673 estudantes com um orçamento anual de 293 milhões de reais. Por outro lado, a UFSC naquele mesmo ano de 2015 para atender 45.180 estudantes comprometeu uma receita de 1.5 bilhão de reais com 73% dela para despesa com pessoal entre administração, professores e previdência social. Ou seja, um orçamento de 5,4 vezes maior que Addis Ababa. Ademais, não é preciso dizer que o salário médio na Etiópia é o menor do continente africano, 26 dólares que em média cada trabalhador recebe.

Se levarmos em conta o contexto etíope as nossas universidades sustentam verdadeiros magnatas financeiros do ensino. A Universidade Addis Ababa segue a frente não apenas da UFSC, mas também de outras 58 universidades federais do Brasil. O mesmo se sucede com a Makerere University de Uganda que lidando com um orçamento de 441 milhões de reais/ano atende 35 mil estudantes e ficou na posição 631° disputando lugar com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) cuja dotação orçamentária é de 1.2 bilhão de reais para atender 34.806 alunos.

A Universidade de Nairobi no Quênia com uma dotação orçamentária anual de 338 milhões de reais, deixou 186 universidades brasileiras para trás, enquanto divide a 792° posição com a Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). Porém, a Universidade de Nairobi é a maior instituição de ensino do Quênia atendendo 84 mil estudantes. Ao passo que a UFSJ também tem uma dotação orçamentária de 333 milhões de reais/ano, mas para atender 14.559 estudantes.   O governo do Quênia anunciou que para o orçamento de todas as universidades do país será provisionado 6,48 bilhões de reais, quantia essa insuficiente, por exemplo, para manter quatro universidades brasileira como a UFPE, UFRN, UFBA e UFES, essa última, inclusive, está distante 604 posições atrás da Universidade de Nairobi que tem um orçamento 3,5 vezes menor, mas que atende 2,8 vezes a mais alunos do que a Federal do Espirito Santo. 

Uma tragédia

Com 80% do seu orçamento comprometido com pagamentos de salários, a gestão das universidades brasileiras é no mínimo uma tragédia.

Faltaria-me tempo para comentar as universidades do Egito, Tunísia, Jordânia, Líbano, Gana, Malawi, Nigéria, Argélia, Camarões, instituições de ensino superior de estruturas fragilizadas pela guerra, corrupção e limitações culturais, mas ainda assim, estão melhores no ranking mundial do que as nossas milionárias universidades públicas ou não do Brasil.

Segue o link do ranking da pesquisa. Aqui

Daniel souza Júnior

Editor do Teorítica


Referências citadas

Inep - sobre o censo do ensino superior (ano 2017)

Nota Técnica

Lista de universidades da África do Sul

Pesquisa Leinden

Orçamento (2010) do Instituto de Física Yerevan Physics Institute

Sobre a vida de Yuri Orlov

Proposta de Orçamento da UNESP em 2010

Quantidade de alunos na Universidade Addis Ababa em 2015

Orçamento da Universidade Addis Ababa em 2015

Salário médio na Etiópia

Orçamento Makerere University

Alunos UFSC

Orçamento da UERJ

Universidade de Nairobi

Orçamento da UFSJ

Orçamento das universidades do Quênia

Orçamento UFES

Orçamento da UFBA

Sobre o orçamento da UFPE

Sobre o orçamento da UFC