Mas afinal, o que está destruindo as empresas de mídia?



A Era da Informação está florescendo, mas paradoxalmente as empresas de comunicação estão em decadência financeira. Como isso é possível?

A empresa norte americana McClatchy, dona de pelo menos trinta jornais na terra do Tio Sam, pediu proteção contra falência em meados de Fevereiro de 2020. A agência de notícias australiana AAP Newswire declarou em 03 de março de 2020 que iria fechar as portas depois de 85 anos de existência. Há cerca de sete anos atrás o The Washington Post estava sendo oferecido ao mercado - Jeff Bezos especificamente - após 80 anos de seu resgate de um leilão feito pelo financista Eugene Meyer.
Como citei no artigo "a falência da companhia Thomas Cook", desde a virada do século XXI estamos testemunhando a ruptura de modelos de negócio por todo o mundo. Modelos que nasceram de uma mentalidade industrial em que controle de mercado era o foco dos magnatas, na Era da Informação tudo foi fragmentado em pequenos mercados, dificultando o domínio. A AAP Newswire quando anunciou que fecharia suas sucursais na Nova Zelândia em abril de 2019 culpou a baixa rentabilidade do modelo de negócio. Todavia esta baixa rentabilidade advém dos poucos assinantes que estão dispostos a pagarem pelas informações.
Desde a virada do milênio a herdeiros de conglomerados têm vendido suas divisões jornalisticas à grupos de investidores, logo após a popularização da internet. Um movimento silencioso que passou batido bem debaixo do nariz midiático. Em 2006, por exemplo, a família Ridder passou o segundo conglomerado de mídia dos Estados Unidos - Knight Ridder dona de 32 jornais - para as mãos da McClatchy um outro antigo conglomerado americano, mas tocado por investidores. A família Bancroft entregou o The Wall Street Journal ao Rupert Murdoch em 2007. A família Graham repassou o The Post para o dono da Amazon em 2013. No entanto, não podemos esquecer da bilionária transação que a família Chandler fez ao vender seu conglomerado midiático - Times Mirror - para o Tribune Company no ano 2000.
Por esta pequena amostra não é difícil perceber que ninguém que ficar com a batata quente na mão. Altos custos de produção, a inexorável presença da internet no dia-a-dia das informações, e a pouca atração financeira do negócio, atrai o interesse apenas de um pequeno grupo que tem como prioridade moldar o comportamento das mídias. Não por acaso, o The Washington Times tem sido acusado de direcionamento de negócios ao destacar os livros mais vendidos e direcionar o leito para a loja da Amazon - uma maldade da estratégia da verticalização.
Um colunista do NiemanLab, Ken Doctor, destaca que nos Estados Unidos tem centenas de jornais locais lutando contra o processo de decadência utilizando a estratégia de inteligência comercial e vínculos com a comunidade, enquanto busca o seu próprio nicho jornalistico. No Washington Examiner, Salena Zito discorre sobre como a confiança nas grande sucursais foram abaladas quando aos poucos as redações locais foram fechadas - distanciando o fazer notícia da realidade do público. Este é o modelo condenado. Ele não é sustentável. O fazer notícia se descobriu escravo do dinheiro éter e fantasma dos megainvestidores.
Neste contexto, estamos assistindo o fim das grandes industrias. No grande vazio deixado por corporações como AAP Newswire poderá ser perfeitamente preenchido por uma rede social de notícias formada temporariamente no calor do desenrolar dos fatos.

Daniel Souza Júnior
Editor do Teoritica